Somos humanos. Dizer algo que não se pensa realmente, só para magoar a outra pessoa, para fazê-la sentir um rasgo do que estamos a sentir. Faz parte. Faz parte de nós comentarmos algo que não gostamos, não para ofender, mas para deitar cá para fora e procurar compreensão, uma palavra amiga que aconselha. Faz parte. É humano. É humano estar descontente com alguém ou alguma coisa, é humano querer desabafar, não acartar o fardo sozinho. É humano querer apoio. O que muitas vezes não é humano é a forma como procuramos esse apoio. Dizer o que não se pensa, ou melhor, o que se pensa na hora mas que, no fundo, é só a raiva a falar mais alto. E isso tudo para quê? Para ter uma palmadinha nas costas, junto com um "tens razão". Será que serve? Será que vale a pena muitas vezes perdermos alguém importante por isso? Vale a pena ficarmos de consciência pesada, por aqueles breves minutos de consolo?
Quando estamos perto de perder uma pessoa importante, à qual muitas vezes dissemos tanto ou, se calhar, dissemos muito pouco, dissemos o que não pensávamos e esquecemo-nos de dizer o que no fundo pensávamos, como um simples "fazes a diferença", quando estamos perto de perder essa pessoa ficamos melindrados. Tanta coisa por dizer, tanta coisa por fazer. Tanta coisa que podíamos ter feito, mas não fizemos. Muitas vezes por acharmos que essa pessoa não era importante. Não fazia diferença. Ela não daria valor. E até podia ser assim. Até podia ser verdade, mas estaríamos nós aqui, a pensar nisto, se não fosse o que queríamos? Nem que fosse por descarte de consciência. Nem que fosse para dizermos "eu fiz tudo, disse tudo o que queria.", mas ainda saberia a pouco. E, quando essa pessoa parte, o mundo desaba e ficamos desamparados, com tanta coisa por dizer, tanta coisa por fazer.
Faz parte não dar valor. Faz parte não querermos saber, mesmo que no fundo saibamos que é um erro, que um dia vamos sentir remorsos. É humano, o ser humano é incompleto e estúpido. Ignora, desvaloriza, magoa, para no fim sentir apenas remorso.
Mas faz parte.